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quarta-feira, 10 de setembro de 2014
Negligência na Infância - O verdadeiro ponto gatilho do TPB
O ser humano tem sempre a tendência de justificar tudo através da culpa. Culpando os outros ou se culpando a eles mesmos, culpando a vida, o destino, etc... é a forma que encontra para dar razão e sentido a uma série de eventos da sua vida que o incomodam e ele não sabe como resolver no seu íntimo.Isso é a forma mais errada que existe de lidar com tudo o que existe!Neste artigo vou dar um exemplo do que eu sempre entendi por base do TPB, apesar das estatísticas e estudos se basearem que a origem principal do transtorno sejam os abusos sexuais na infância.
Estou totalmente de acordo que eles existem em grandes percentagens mas de fato, o que resulta na origem do transtorno, não é o fato do abuso sexual em si (aspeto gravíssimo) mas sim as negligências emocionais e afetivas a que a criança foi exposta e as consequências disso na sua formação afetiva, social e até mesmo física.
O objetivo aqui é além de mostrar que culpar alguém ou o que quer que seja nada vai resolver mas sim tentar de alguma forma atuar da forma correta, ou seja, na informação e sensibilização. Estas são as únicas formas de poder começar a resolver e evitar os traumatismos infantis que na aioria dos casos mais tarde evoluirão para transtornos. Sem este procedimento nunca será posto um termo à sua perpetuação de gerações e gerações.
É também importante salientar primeiro que tudo que uma criança emocionalmente negligenciada não se transforma numa pessoa mecanicamente violenta. Estas vítimas carregam suas cicatrizes de outros modos. Normalmente constroem relações emocionais destrutivas, movem-se na vida desconectados da sociedade e evitam outros seres humanos no "seu mundo".
A dificuldade de conseguirem sentir confiança e simpatia pelo próximo faz com que quando expostos a situações de maior estresse o seu inconsciente volte atrás, ao que eles mais querem esquecer de forma consciente e a violência seja o seu instinto mais básico (quer de raciocínio ou fisicamente explícita) pois é, na sua base, a forma aceitável e a base para a resolução de todos os problemas.
Mas vamos à origem desta questão e ao que importa no artigo de hoje:
NEGLIGÊNCIA NA INFÂNCIA
Creio que não será necessário ser nenhum Carl Jung nem nenhuma Alice Miller para entender que existem consequências no adulto dos maus tratos durante a infância mas parece continuar a ser de difícil entendimento que negligência infantil não acontece somente quando uma criança é espancada, estuprada ou não lhe são dadas as condições econômicas para que ela possa usufruir de cama, comida, roupa lavada, acesso aos sistemas de ensino e até por vezes oportunidades de usufruírem de bens e viagens a lugares que a maioria dos mortais não tem acesso.
A negligência emocional na infância é a pior que pode existir na formação duma criança que um dia será um adulto na sociedade! A sua personalidade começa a se desenvolver desde a infância e, juntamente com o que sentem e observam à sua volta não se pode desconsiderar de forma nenhuma o código genético herdado... algo mais com que vão ter de lutar.
Apesar de tudo hoje em dia abrem-se portas para possíveis formas de mudar as histórias das pessoas através da consciencialização e libertação das consequências destrutivas no indivíduo.
Aline Miller tem uma frase em que diz:
"Através do conhecimento da nossa história e nossos sentimentos, podemos conhecer a pessoas que somos, e aprendermos a dar-lhe o que é vital, e muitas vezes nunca recebemos dos nossos pais: amor e respeito."
É engraçado que esta frase foi a base de muita coisa na minha vida... mas não foi dita por ela e sim por um grande mestre, por acaso budista, que me orientou e ajudou a formar a personalidade que tenho hoje e a minha postura na vida.
Vejamos então como tudo funciona na verdade:Ao nascer, cada bebê vem com uma história própria, a história dos nove meses entre a concepção e o nascimento (mais coisa menos coisa). Isso é muito importante, pois muitos pais não sabem da importância que tem conversar com o bebê ainda na barriga. Além disso, as crianças têm o código genético que herdam de seus pais. Esses fatores podem ajudar a determinar que tipo de temperamento uma criança terá, suas inclinações e predisposições. Mas o caráter depende, fundamentalmente, se a uma criança é dado amor, proteção, carinho e compreensão ou expostos à rejeição, frieza, indiferença e crueldade nos primeiros anos de formação.
O estímulo indispensável para desenvolver a capacidade de empatia, por exemplo, é a experiência de carinho. Na ausência de tais cuidados, quando uma criança é forçada a crescer negligenciada, emocionalmente carente e submetida a abuso emocional, físico ou sexual, vai perder essa capacidade inata. Uma criança traumatizada ou negligenciada pode, quando adulta, saber que pode lidar com os efeitos, com os trauma de infância.
Uma das mais graves formas de transgressão ao princípio da parentalidade responsável e da dignidade da pessoa humana é a violência vivida no âmbito doméstico.É possível subdividir a violência intra familiar perpetrada contra a criança e o adolescente em quatro modalidades: violência física, violência psicológica, abuso sexual e, por último, a negligência ou o abandono.
O abandono ou a negligência implica na omissão parental em suprir as necessidades físicas e emocionais da criança ou do adolescente, desde que essa falta não seja resultado de uma situação de precariedade financeira. De acordo com as pesquisas realizadas no Brasil, assim como os dados americanos, a negligência lidera o ranking de incidência de abuso no âmbito da família. No entanto, a diminuta atenção que esta prática recebe deve-se ao fato de que as consequências físicas e psicológicas são atribuídas, muitas vezes, a outras causas, já que o descuido implica sempre em uma omissão por parte dos pais ou cuidadores.
O fenômeno da negligência tem sido enfrentado a partir de cinco subdivisões: negligência física, negligência médica, negligência educacional, negligência emocional e, por fim, a supervisão inadequada. Cada um destes aspectos possui características próprias e sugerem diferentes atitudes omissivas dos pais no cuidado com os filhos.
Saliente-se que a negligência prejudica o desenvolvimento cerebral da vítima, sobretudo nos primeiros anos de vida, quando a ausência de afeto é responsável por liberar hormônios de estresse que impedem o crescimento esperado do cérebro. Em geral, as consequências de qualquer forma de descuido influenciam negativamente a capacidade cognitiva e intelectual, o desenvolvimento emocional e psicológico, bem como a habilidade social e comportamental da vitima, podendo culminar com um óbito.
É, pois, imprescindível que a sociedade seja alertada acerca da alta incidência de negligência nas famílias, e que os pais saibam que possuem uma responsabilidade, um dever de cuidado em relação aos filhos. O planejamento familiar é livre, mas o ser humano deve ter consciência de que, a partir do momento em que decide ter um filho, deve zelar para que os direitos dessa criança sejam respeitados, tendo em vista seu melhor interesse e sua proteção integral.
A negligência parental evidencia, destarte, uma falta de diligência dos pais em suprir as necessidades daqueles que deles dependem, seja em relação ao afeto, à alimentação, aos cuidados médicos, à educação ou à necessidade de uma supervisão adequada.
No caso do TPB, o que mais pesará será sempre os maus tratos emocionais e, mais que tudo, a negligência pelo abandono, que na maioria dos casos nem é físico mas seria bem preferível que o tivesse sido!Até aos dias de hoje, por pura ignorância e falta de olhar para dentro de si mesmos e para tudo ao seu redor, pessoas apontam o dedo, culpam e "atiram pedras" a algumas mães portadoras de TPB que numa dada altura de suas vidas resolvem dar para adoção os seus filhos ou simplesmente entregam a guarda deles para pessoas que elas sabem que vão cuidar deles e lhes poderão proporcionar uma vida digna com tudo o que eles não conseguiram ter em suas infâncias. Até hoje não consigo entender o porquê da condenação destas pessoas que têm atos de consciência e responsabilidade humana.
Não podemos mudar o que aconteceu até aos dias de hoje mas podemos fazer com que o dia de amanhã seja melhor... senão para nós pelo menos para aqueles que amamos e no caso de alguém pensar que isso está errado então meus senhores, não quero viver no vosso mundinho socialmente correto e mascarado de moralismos doentios.
Uma criança necessita de tudo o que o mundo tem de melhor para lhe oferecer... e se para isso temos de nos sacrificar, machucar o nosso ego e dizer "Eu não sou capaz... por favor faça por mim", então que seja!
Tentemos criar pessoas dignas, de respeito, sensíveis ao próximo e a tudo no mundo, generosos, amáveis e leais... do resto o mundo já está cheio!
Vamos então ver o que uma criança não deve ser exposta para que a sua personalidade seja bem construída e saúde mental e física sejam salvaguardadas:
Maltrato emocional
É interessante destacar que é uma das formas de maltrato infantil mais difícil de diagnosticar. Geralmente, detecta-se quando associado a outros quadros severos de maltrato e ainda que confirmada a suspeita, a intervenção dos profissionais e/ou do sistema legal ocorre de forma mais cautelosa.
É a consequência da hostilidade verbal crônica em forma de burla, desprezo, crítica ou ameaça de abandono e constante bloqueio das iniciativas de interação infantil. Quem maltrata psiquicamente pode adotar atitudes tais como de humilhar a criança frente aos outros, privá-la de saídas e de sua integração social, utilizando para isto desde apenas evitar a socialização como até encerrar a criança em casa.
Pode-se ilustrar este tipo de maltrato dizendo que os filhos podem ser atingidos com atitudes, gestos e palavras, ou simplesmente rechaçando a individualidade da criança ou do adolescente de maneira tal, que impeça o seu desenvolvimento psicológico normal.
Outro mal trato a ser considerado como muito grave são as inúmeras discussões, violência física, verbal e humilhações que os pais distribuem gratuita e "generosamente" um ao outro em frente aos filhos. Isso pode tornar-se avassalador para a criança e sua formação como adulto.
Os efeitos do maltrato emocional são observados:
· no vínculo afetivo entre a criança e o adulto;
· nos baixos níveis de adaptação e funcionamento social: dificuldade para estabelecer vínculos amistosos, problemas com os pares, problemas com a comunidade;
· nos problemas de conduta: agressividade, condutas destrutivas, condutas anti-sociais;
· nos transtornos na área cognitiva e na solução de situações problemáticas;
· nos fracassos escolares ou (embora o sucesso escolar possa vir a ser um fato por motivos da criança ou adolescente focar a sua dor na obsessão pelos estudos) na integração posterior do adulto no meio laboral;
· na tristeza e depressão: baixa autoestima, instabilidade emocional, tendências suicidas;
· nos temores e sintomas físicos (mais frequentes nas crianças pequenas e adolescentes mas não impossíveis na fase adulta): síndrome de falta de progresso, perda do apetite, enurese.
Abandono
Fala-se de negligência quando o adulto permanece junto ao filho, privando-lhe parcialmente e em grau variável de atenção adequada e necessária. Esta desatenção pode provocar quadros de desnutrição de segundo e terceiro graus (sem que haja a princípio nenhum fator orgânico determinante), descuido frente a situações perigosas e acidentes frequentes, imunizações incompletas, deserções escolares, desconhecimento de atividades extra-familiares, desinteresse, etc.
Como falei anteriormente, no TPB, o abandono não tem necessariamente que ser físico ou real (no caso de falecimento de um dos pais)... mas ele se sentirá abandonado da forma mais profunda que pode existir perpetuando na sensação de vazio tantas vezes revelada pela maioria dos pacientes.No caso do falecimento da mãe ou do pai o vazio existirá obviamente pelo cuidado maternal ou paternal em falta mas a causa real será seguramente pela negligência que a criança ou adolescente foi submetida após essa ausência forçada na sua vida.Na verdade as crianças negligenciadas emocionalmente são órfãs da pior maneira que pode existir: de pais vivos!
Talvez por estas e outras razões nunca senti pena dos que terminam a sua jornada... E SIM DOS QUE FICAM POR CÁ!
By: L.M. - Blog Apenas Borderline
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