Total de visualizações de página

sábado, 8 de novembro de 2014

Violência Psicológica POUCO abordada e valorizada



 A violência psicológica na infância e adolescência, no contexto familiar, ainda é pouco estudada. 
Este tema tem sido mais estudado na literatura internacional do que na brasileira, e que aumentou significativamente sua visibilidade na última década, porém ainda enfrenta dificuldades quanto à definição, conceituação e operacionalidade. Constatou-se que a violência psicológica ao sair da invisibilidade pode colaborar para o aumento da prevenção e da proteção desta natureza de violência.

Os psiquiatras e pediatras alertam: não é porque um pai não bate nem abusa sexualmente de seu filho que é o melhor cidadão do mundoO abuso psicológico ou emocional pode ser o tipo mais comum de abuso infantil, e o mais difícil de lidar.
É muito comum ouvir falar de campanhas contra abusos físicos ou sexuais de crianças. Aliás, bastantes pesquisas já mostraram que bater para educar pode não ser uma boa ideia, já que pode trazer diversos problemas psicológicos para as crianças agredidas, inclusive aumento do risco de desenvolver transtornos mentais.
Além dos riscos de depressão, ansiedade e vícios, estudos indicam que bater não tem um efeito positivo na educação.
Nem é preciso dizer que o abuso sexual é ainda pior para a saúde mental das crianças. A violência e o trauma de um abuso sexual são devastadores para ambos os sexos, e os homens podem ter mais dificuldades em se recuperar, por conta de seu “senso de masculinidade”.

Mas se existe algo que merece destaque nos últimos anos é o abuso emocional, especialmente na forma do bullying. Segundo os pediatras, o abuso psicológico, especialmente por parte dos pais, raramente recebe o mesmo tipo de atenção de outros abusos, o que é um erro, porque além de serem tão ou mais comuns, são igualmente prejudiciais.

O maior problema em combater o abuso emocional é que ele é muito difícil de identificar. Como diferenciar uma família em um “mau dia”, no qual a criança estava precisando de uma bronca, de uma família que abusa psicologicamente constantemente de seus membros?
Quando falamos de abuso emocional, estamos falando de probabilidade alta de danos, decorrente dos tipos de comportamento que fazem a criança sentir-se inútil, desprezada ou indesejada.
Maus-tratos psicológicos podem incluir aterrorizar a criança, menosprezá-la ou negligenciá-la. No entanto, é preciso diferenciar qualquer evento específico da natureza da relação entre o cuidador e a criança.
Por exemplo, manter uma criança em um estado constante de medo é abuso. “Corromper uma criança” – incentivá-la a usar drogas ilícitas ou se engajar em outras atividades ilegais – também. Já perder a calma e gritar uma vez, ou deixar a criança em seu quarto por uma hora quando ela bateu em seu irmão caçula não constituem abuso.

Uma série de pesquisas norte-americanas descobriu que mais adultos afirmam ter enfrentado maus tratos psicológicos do que qualquer outra forma de abuso na infância. Isto sugere que os maus tratos psicológicos podem ser a forma mais comum de abuso infantil.
Os psicólogos e pediatras recomendam que todas as figuras responsáveis próximas a uma criança sejam sensíveis aos sinais de maus tratos emocionais, que podem ser os mesmos sinais de abuso sexual ou físico, como a criança se isolar, se tornar agressiva, ter dificuldade de relacionamento, demonstrar medo de ficar perto de tal adulto ou de adultos, demonstrar vontade de não voltar para casa, depressão, problemas com sono, rebeldia, etc.
Também acreditam que intervenções deveriam ser consideradas em caso de abuso psicológico, e não apenas físico ou sexual, pois as crianças expostas a maus tratos psicológicos também podem exigir um nível de proteção como a remoção da casa dos pais. 


Se esses problemas continuarem a serem ignorados continuarão a aumentar os problemas psíquicos e, consequentemente psicossomáticos, ou seja, a sociedade continuará num ritmo de efemeridade contagiante e descontrolado.
ignorando o problema de base mais cedo do que todos pensamos tornar-se-á a epidemia mais terrível de todos os tempos.

Segundo os resultados bem recentes, uma porcentagem assustadora de 56% dos homens entrevistados admitiram ter tido atitudes violentas contra mulheres. Algumas formas de violência citadas incluem xingamentos, humilhações públicas, ameaças verbais, empurrões e proibições de sair de casa em algum momento, sendo os xingamentos os mais prevalentes.
A psicologia trabalha amplamente com a questão dos abusos verbais... infelizmente só se lembrou disso à cerca de menos de 3 décadas atrás e hoje ainda não é muito levada a sério quando se trata de crianças e adolescentes. Eu penso sinceramente que mais vale prevenir do que remediar... enxergar melhor nossas crianças desde cedo e formar todos os profissionais que tenham acesso a elas para que sejam sensibilizados quanto a esse aspeto, que na minha opinião, é o mais essencial de todos. O Que nos vale formação nas escolhas se não temos crianças capazes de adquirir aprendizado em condições e, para rematar, sem educação?
Sempre defenderei que formação jamais será sinônimo de educação... existem médicos, engenheiros, advogados (já para não falar nos ministros porque neste país pareceria uma piada...rsrs) com toda a formação do mundo mas a educação e humanidade deixa muito a desejar!!

Falando novamente sobre violência emocional já na idade adulta, a grande parte das demandas clínicas e de saúde mental  hoje em dia envolvem violência psicóloga, crises de ciúme e o podamento da liberdade do parceiro. É importante perceber que essas demandas são mais frequentes entre as mulheres e as estatísticas só servem para confirmar o recorte de gênero.
No entanto, as mortes e hematomas não são as únicas consequências que os abusos verbais precedem, pois a violência psicológica e emocional causa outros problemas gravíssimos.
Um comentário depreciativo é o suficiente para agredir a autoestima e a percepção de valor próprio do alvo, várias vezes minando sua vontade de viver. Gestos e palavras agressivas transformam uma mulher em um rascunho de ser humano, perdida na dependência emocional e sem forças para enxergar uma realidade melhor.
Os termos e chantagens são tão pesados que fazem com que a vítima não consiga entender que merece um relacionamento feliz, já que aquele contexto de sofrimento se torna o padrão, a única opção.

Mas não é necessário ser profissional ou estudante de Psicologia para compreender as consequências catastróficas dos abusos verbais... ou pelo menos eu gosto de pensar desta forma para as coisas me parecerem um pouco menos graves. Casos de violência física e homicídio muito frequentemente começam com xingamentos, manipulações e chantagens, formas de violência que não aparentam ser tão graves no começo, mas que pioram gradativamente. 

As narrativas são muito semelhantes e o agressor que esmurrou ou espancou sempre começa com comentários depreciativos, muitas vezes devido a crises de ciúmes.

Um dos fatores que dificultam solucionar os relacionamentos abusivos é que os abusos são, quase sempre, encarados como coisas normais dentro de um casamento, que “fazem parte da vida”. o.O
O discurso conformista é praticamente unânime. No entanto, permitir que a sociedade continue encarando brigas violentas, físicas ou verbais, como coisas indissociáveis dos relacionamentos, é uma colaboração com os intermináveis crimes misóginos. Se todos os comportamentos humanos acontecem devido a influências de suas raízes culturais, é óbvio que o modo como as pessoas lidam com os problemas no campo emocional é a própria base da violência doméstica. 

Não adianta tentar impedir os espancamentos e estupros, mas continuar se omitindo quando um casal discute e o homem dispara uma bomba de termos chulos, palavrões e críticas cruéis contra sua esposa.

O fato de que as mulheres e crianças (filhos do casal) são as maiores vítimas dos abusos psicológicos chama atenção para o machismo da sociedade. São as mulheres que crescem sob demandas violentas, sendo pressionadas a suportar toda espécie de xingamento, controle sobre seus corpos e podamento de suas liberdades... os filhos, por consequência, nunca ficam do lado de fora do jogo.
Os axiomas de sensibilidade, compreensão e cuidado continuam empurrando o sexo feminino para uma história única, sem variações significativas: ao invés de serem responsabilizados por seus atos, os homens problemáticos precisam de cuidado e compreensão, pois considera-se que somente uma mulher amorosa pode ser capaz de transformá-lo. 

Até parece um conto de fadas, só que nesses casos é a mulher que precisa ser maternal e se anular enquanto sujeito para salvar o homem de seus comportamentos impulsivos e desonestos.

Para além das idealizações, a resignação em um relacionamento infeliz é frequentemente exigida das mulheres. É por isso que quando são envolvidas questões de classe e religião, a manutenção do status econômico e a reputação na comunidade espiritual funcionam como correntes que mantêm as mulheres presas aos abusos – afinal, “o amor tudo suporta, tudo espera”. Tal constatação é extremamente preocupante, pois a sociedade pressiona e coage o gênero feminino a permanecer com maridos e namorados abusivos, mesmo que reconheçam que o homem está passando dos limites; a expectativa é de que com paciência tudo se resolva eventualmente.
Relacionar o amor com a tolerância ao machismo adoece os relacionamentos, tornando-os venenosos e perigosos. A sociedade induz as mulheres a se transformarem em mártires, e sob a pena de serem consideradas infiéis, vadias e negligentes, muitas delas se conformam com os relacionamentos abusivos. Não é à toa que se espera a desistência da autonomia por parte da mulher quando a mesma se diz apaixonada. Além disso, o sexismo ligado aos papéis de gênero contribui fortemente na manutenção dos abusos: os discursos culturais giram em torno da “irracionalidade” feminina e de como estão supostamente exagerando quando reclamam de atitudes dos parceiros. Desse modo, é fácil invalidar as denuncias das mulheres, pois se são cegas emocionalmente e sempre reclamam de tudo, nada garante que o homem está de fato sendo violento. É por isso que informação, apoio e educação sobre o tema são tão importantes, sendo ferramentas para que mais mulheres em relacionamentos possam pensar se sofrem risco de abuso.

É preciso alertar homens e mulheres sobre o que configura abuso emocional e psicológico e controle sobre a outra parte, como quando o parceiro passa a se incomodar com as roupas que a mulher usa, suas amizades ou locais que frequenta. Se um homem chega ao ponto de impedir a saída da mulher e o contato com outras pessoas, é porque ele está sendo abusivo e machista, tratando-a como um objeto sob seu controle. Lamentavelmente, a sociedade custa a entender isso e levanta muitos argumentos para justificar tais atitudes. As pessoas se acostumaram com o cerceamento, principalmente quando o sexo feminino é que está sendo cerceado.
Muitas mulheres não sabem que estão sendo vitimadas e permanecem condenadas a um cotidiano de violência. Por isso, é importante nos politizarmos e passarmos a nos posicionar a respeito da violência de gênero. Conscientizar a população sobre a violência psicológica e emocional deve ser prioridade, combatendo a menor manifestação de abuso contra qualquer mulher.

Apesar da violência psicológica que atinge crianças e adolescentes não ser recente, apenas há 30 anos recebeu atenção internacional com crescente conscientização e sensibilização de profissionais e do público em geral. É um fenômeno universal que não tem limites culturais, sociais, ideológicos ou geográficos e ainda está envolto por um pacto de silêncio, principal responsável pelo ainda tímido diagnóstico e pelo reduzido número de notificações. 

Entretanto, como se constitui em um problema social crescente que não se limita às áreas da saúde, assistência social ou de justiça, qualquer cidadão, ao entrar em contato com crianças e adolescentes, deveria ser capaz de diagnosticar, relatar e ajudar a orientar estas crianças e seus responsáveis.
Assim, esta revisão da literatura mundial sobre a exposição à violência psicológica na infância no contexto familiar (o caso aumenta quando se fala do Brasil), demonstra que a violência psicológica está saindo da invisibilidade, mas que ainda apresenta inúmeras dificuldades a serem vencidas, para o melhor enfrentamento de tão grave natureza de violência.


Mais uma vez peço perdão pelo texto mais longo de hoje... mas tem coisas que quando começo a falar sobre elas o meus dedos criam vida própria.rsrs
Este artigo não foi específico para portadores de TPD mas para alerta sob o que tem de ser feito para evitar que cheguemos a um Transtorno e comorbidades do mesmo.
Saúde Pública deveria ter por base a prevenção (não só nesta mas em todas as áreas) e não estar cheios de casos de pronto-socorro!!

By: L.M. - Blog Apenas Borderline

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.