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quinta-feira, 23 de abril de 2015

Bipolaridade e outros Transtornos como Comorbidade


É bastante difícil o diagnóstico de transtorno de personalidade como comorbidade do Transtorno Afetivo Bipolar, particularmente durante as fases de depressão ou de hipomania/mania. Por outro lado, sua identificação tem importantes implicações em termos de prognóstico. Assim sendo, recomenda-se que essa dúvida seja esclarecida quando o TAB estiver controlado, se possível contando com informações de familiares. 
Os transtornos de personalidade mais encontrados em comorbidade com o TAB são os do cluster B, principalmente os transtornos borderline e histriônico. Nesses pacientes e em outros com traços de personalidade mal adaptativa, a avaliação dos sintomas de TAB é difícil e, não raramente, seus sintomas podem ser subestimados.

O diagnóstico de um transtorno psiquiátrico já é difícil em muitas ocasiões. O que dizer então do diagnóstico de uma comorbidade? Além disso, não é tarefa isenta de riscos. O primeiro deles diz respeito a se fazer um segundo diagnóstico quando, na verdade, o que o paciente apresenta não é outro transtorno e sim manifestações do próprio Transtorno Bipolar que mimetizam outro quadro. Nunca é demais lembrar que não existem comorbidades de sintomas, mas sim de doenças ou transtornos. 
O segundo risco envolve o não-reconhecimento de um segundo (ou terceiro) transtorno que o paciente apresente conjuntamente com o Trastorno Bipolar. Em outras palavras, uma coisa é o diagnóstico diferencial (Esse paciente tem TAB ou outro transtorno?) e outra são os diagnósticos associados, as comorbidades. 

Como sempre, quem paga o preço por um engano do médico assistente é o paciente. E esse preço pode ser elevado. A não-identificação de uma comorbidade implicará resposta parcial ao tratamento (na melhor das hipóteses) com consequente maior morbidade e maior chance de complicações. Em contrapartida, a confusão de manifestações do TAB com sintomas de outros transtornos psiquiátricos poderá resultar em excessos terapêuticos. 


Em vista do que foi apresentado, é importante, quando se faz o diagnóstico de TAB, que se investigue a presença de transtornos de ansiedade. A suspeita dessa comorbidade deve ser ainda maior nos pacientes que não estejam respondendo satisfatoriamente ao tratamento e/ou tenham problemas relacionados com abuso de álcool ou drogas, visto que essa é a complicação mais comum nesses casos.

A comorbidade em pacientes com TAB, muito mais regra que exceção, é um fato e não um artefato devido a questões metodológicas dos estudos epidemiológicos como se chegou a pensar. Trata-se de fenômeno clínico dos mais relevantes com implicações em termos de diagnóstico, manejo clínico e prognóstico. Recomenda-se que sempre se mantenha presente sua possibilidade, para que seja possível sua identificação precoce em pacientes com TAB. Esse cuidado é particularmente indicado nos casos de resposta insatisfatória ao tratamento ou naqueles com apresentação mais complexa, quando então a anamnese detalhada deve ser complementada por informações dadas pelos familiares.

O tratamento do paciente bipolar com comorbidade quase sempre envolve a utilização de um estabilizador do humor, quer seja como medicação primária ou como profilático quando se faz necessário o uso de antidepressivos – em pacientes com TP, TOC, TAS ou transtornos alimentares. 

Com base nos dados de literatura não é possível dizer que um estabilizador de humor seja melhor que outro em pacientes com transtorno bipolar em comorbidade com outros transtornos.
Os benzodiazepínicos podem ser úteis como coadjuvantes na medicação para esses pacientes, bem como também o emprego de técnicas de psicoterapia cognitivo comportamental e terapias de grupo.


Por fim, mais uma vez fica o alerta aos pacientes de que é importante a confiança e clareza total com os seus terapeutas ou os riscos de diagnósticos errados e, consequentemente, tratamentos que não dão certo serão uma realidade a pagar e com consequências graves.
Sejam claros, persistentes... se necessário não tenham vergonha de pegar num papel e caneta e escrever o que sentem para não se esquecerem no momento das consultas mas jamais escondam nada.
Profissionais de saúde existem para caminhar ao vosso lado e vos dar a mão, não para serem vossos inimigos!


Fontes: (75 Sanches, R.F.; Assunção, S.; Hetem, L.A.B. Rev. Psiq. Clín. 32, supl 1; 71-77, 2005)

By: L.M. - Blog Apenas Borderline

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