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quarta-feira, 22 de abril de 2015

Transtornos de Humor vs Transtorno de Personalidade Borderline ou Limítrofe


Os transtornos do humor são diferenciados entre Depressão Unipolar e Transtorno Bipolar dependendo do tipo de alteração do humor, severidade e evolução da patologia. O maior fator de distinção entre os dois é a presença de mania ou hipomania em alguma altura do seu curso clínico. Pacientes com transtorno bipolar GERALMENTE apresentam-se inicialmente com depressão e no curso da sua doença podem estar neste estado cerca de 3 vezes mais do que no estado de Mania ou Hipomania. Na ausência dos sintomas de mania, é difícil de diferenciar entre doença bipolar ou depressão unipolar... mas elas existem.

E o que têm a ver os transtornos de humor com a personalidade borderline?Muito, porque a depressão unipolar é uma das características principais do Transtorno de Personalidade Borderline mais notada na sua maioria do tempo. Também porque, sendo o Transtorno de Personalidade Borderline o diagnóstico principal, jamais o individuo terá episódios de mania ou hipomania. Se se verificar a Personalidade Borderline com o TAB será sempre a personalidade como comorbidade do transtorno de humor e nunca o contrário.

Vamos então definir o que são as três coisas de que tanto falam e que tanto distingue o Transtorno de Personalidade Borderline do Transtorno de Humor Bipolar, embora ambos tenham como sintomas transtornos de humor como é o caso da Depressão Unipolar no TPB e a Depressão Bipolar, Mania e Hipomania no transtorno afetivo Bipolar. Mas da Depressão Bipolar falaremos numa outra oportunidade.

A própria classificação atual definida pelo DSM considera que a Depressão Unipolar e a Doença Bipolar são transtornos qualitativamente diferentes no que diz respeito à sua etiologia e à sintomatologia. Será importante esclarecer os conceitos de Episódio Depressivo Major, Mania e Hipomania que ajudarão posteriormente a estabelecer os vários diagnósticos dos transtornos de humor.

É importante salientar que a Depressão Major é um sintoma do Transtorno de Personalidade Borderline mas não a define por excelência. Pacientes com este tipo de transtorno podem ter episódios de melhoria e apresentarem comportamentos normais sem por isso terem de estar em hipomania ou mania, aliás, isso não se verifica já que não apresentam os critérios para os colocar nestes quadros.

O Episódio de Depressão Major exige um período de pelo menos duas semanas, durante a maior parte do dia, quase todos os dias, de humor depressivo ou perda de interesse. Apresenta ainda as características enunciadas nas definições que irei apresentar me baseando nos critérios do DSM. Tipicamente, se não for tratado, tem uma duração de quatro meses ou mais.

Critérios DSM-IV para Episódio de Depressão Major

A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estão presentes durante um período de 2 semanas e representam uma alteração ao funcionamento normal do indivíduo:

- humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por uma descrição subjetiva (por ex: sente-se triste ou vazio) ou observação feita por outros (por ex: choro compulsivo e persistente).

- interesse ou prazer acentuadamente diminuídos por todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias.

- perda ou ganho de peso sem estar em dieta ou diminuição ou aumento do apetite quase todos os dias.

- insônia ou hipersônia quase todos os dias.

- agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias.

- fadiga ou perda de energia quase todos os dias.

- sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (que pode ser delirante), quase todos os dias.

- capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou indecisão, quase todos os dias.

- pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer), idealização ou tentativa de suicídio.

B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.

C. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex: drogas ilícitas ou medicamentos) ou de uma condição médica geral ou específica (por ex: tratamento de câncer, reumatismo, diabetes, etc).

D. Os sintomas não são melhor explicados por questões de luto ou perdas, persistem por mais de 2 meses ou são caracterizados por acentuado prejuízo funcional, preocupação mórbida com desvalia, ideação suicida, sintomas psicóticos ou retardo psicomotor.



O Episódio de Mania é definido pela elevação aumentada e persistente do humor, expansivo e irritável durante pelo menos uma semana, a menos que exista internação. Deverá verificar-se ainda pelo menos 3 dos critérios referidos no ponto B da seguinte descrição:

Critérios DSM-IV para Episódio de Mania

A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável, durando pelo menos 1 semana (ou qualquer duração, se a internação é necessária).

B. Durante o período de perturbação do humor, três (ou mais) dos seguintes sintomas persistiram (quatro, se o humor é apenas irritável) e estiveram presentes num grau significativo:

- auto-estima aumentada ou grandiosidade

- necessidade de sono diminuída

- mais comunicativo do que o habitual ou necessidade de falar ou se expressar de alguma forma

- fuga de idéias

- distratibilidade (a atenção é desviada com excessiva facilidade para estímulos externos insignificantes ou irrelevantes)

- aumento da atividade dirigida a objetivos (socialmente, no trabalho, na escola ou sexualmente) ou agitação psicomotora

- envolvimento excessivo em atividades prazerosas e comportamentos potencialmente inconsequentes (por ex: envolvimento em surtos incontidos de compras, indiscrições sexuais, tendência ao consumo de drogas ilícitas ou recreativas, etc)

C. Os sintomas não satisfazem os critérios para Episódio Misto

D. A perturbação do humor é suficientemente severa para causar prejuízo acentuado no funcionamento ocupacional, nas atividades sociais ou relacionamentos habituais com outros, ou para exigir a internação, como um meio de evitar danos a si mesmo e a outros, ou existem aspectos psicóticos. 

E. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex: uma droga ilícita, um medicamento ou outro tratamento) ou de uma condição médica geral ou específica (por ex: tratamento de câncer, reumatismo, diabetes, etc).

Nota: Episódios tipo maníacos nitidamente causados por um tratamento antidepressivo somático (por ex: medicamentos, terapia eletroconvulsiva, fototerapia) não devem contar para um diagnóstico de Transtorno Bipolar I.


A Hipomania tem uma apresentação clínica menos severa que a Mania, duração inferior (quatro dias) e geralmente não acarreta distúrbios sociais significativos nem necessita de internação. Não são vistos como negativos pelo doente pois a atividade, energia e produtividade estão até acrescidas. Por este motivo, os episódios de Hipomania não são reportados pelo paciente.

Critérios DSM-IV para Episódio Hipomaníaco
A. Um período distinto de humor persistentemente elevado, expansivo ou irritável, durando todo o tempo ao longo de pelo menos 4 dias, nitidamente diferente do humor habitual não deprimido.

B. Durante o período da perturbação do humor, três (ou mais) dos seguintes sintomas persistiram (quatro se o humor é apenas irritável) e estiveram presentes em um grau significativo:

- auto-estima aumentada ou grandiosidade

- necessidade de sono diminuída

- mais falador do que o habitual ou necessidade aumentada por se exprimir

- fuga de ideias ou experiência subjectiva aceleração de pensamento

- distração e foco diminuído
- aumento da atividade dirigida a objetivos (socialmente, no trabalho, na escola ou sexualmente) ou agitação psicomotora

- envolvimento excessivo em atividades prazerosas com alto potencial de se tornarem inconsequentes.

C. O episódio está associado com uma inequívoca alteração no funcionamento do indivíduo, que não é sua característica habitual quando está assintomático.

D. A perturbação do humor e a alteração no funcionamento são perceptíveis a maior parte das vezes apenas por terceiros mesmo que o indivíduo já tenha alguma consciência da sua patologia.

E. O episódio não é suficientemente severo para causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou ocupacional, ou para exigir a internação, nem existem aspectos psicóticos. 

F. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex: drogas ilícitas, medicamentos, ou outros tratamentos) ou de uma condição médica geral ou específica (por ex: tratamento de câncer, reumatismo, diabetes, etc).

Nota: Os episódios tipo hipomaníacos nitidamente causados por um tratamento antidepressivo somático (por ex., medicamentos, terapia eletroconvulsiva e fototerapia) não devem contar para um diagnóstico de Transtorno Bipolar II.


Espero ter conseguido ser o mais clara e objetiva possível e desta forma conseguir esclarecer algumas dúvidas.
Como é habitual constatar-se haver frequentemente traços, personalidade ou mesmo transtornos de personalidade borderline em casos de bipolaridade, irei falar mais deste tema nas próximas publicações, tentando definir cada um destes tipos de bipolaridade e como eles se caracterizam de forma separada.

Grata pela preferência.

Voltem sempre.

By: L. M. - Blog Apenas Borderline


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