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quarta-feira, 3 de junho de 2015

Bipolaridade - Como agir se o portador não aceita o tratamento?


A aceitação do tratamento não é algo tão simples como pode parecer à primeira vista. Aderir a um tratamento significa entrar em concordância com a conduta proposta pelo médico e equipe terapêutica.

Para que isso aconteça, é necessário que a pessoa doente tenha:
- Capacidade de se perceber doente
- Aceitação do diagnóstico
- Informação sobre o transtorno e seu tratamento
- Aliança terapêutica
- Psicoterapia e grupos de autoajuda
- Apoio da família e amigos

A falta de adesão ao tratamento não é exclusiva dos transtornos do humor, acontece com várias doenças. É muito frequente em bipolares – mais de um terço abandonam o tratamento duas ou mais vezes e não comunicam o médico
Pode acontecer de várias maneiras, ou seja, o paciente pode não tomar a medicação, ou tomar de acordo com o que acha melhor, interromper e voltar sem comunicar o médico, etc.

Dentre os fatores associados à falta de adesão, destacamos:
- Auto avaliação prejudicada em decorrência de episódio da doença
- Negação da enfermidade
- Preconceito em relação ao uso de psicofármacos
- Temor aos efeitos colaterais dos medicamentos
- Crença na capacidade de controlar o próprio humor
- Estigma social (opinião do meio social desfavorável ao tratamento)
- Conflitos familiares e interpessoais (estresse relacional e pouco apoio)


Qual a importância de aderir ao tratamento? 
São vários os motivos para aderir ao tratamento. 
Porque os pacientes que aderem ao tratamento:
- Reduzem as chances de recorrência da doença
- Controlam a evolução do transtorno
- Reduzem a chance de suicídio
- Reduzem a intensidade de eventuais episódios
- Constroem uma vida mais saudável


Bem, mas saber de tudo isso muitas vezes não é suficiente para garantir que um portador aceite fazer um tratamento para um transtorno do humor e, não raro, sequer aceita fazer uma consulta com um psiquiatra para ouvir uma opinião.

O que a família ou amigos podem, então, fazer numa situação como essas?

Claro que não há solução mágica, um tratamento só acontece e é efetivo se houver uma participação ativa e concordante por parte do paciente. No entanto, é possível tentar um caminho (muitas vezes árduo e demorado) para tentar sensibilizar alguém que se suspeita sofrer de um transtorno do humor a, pelo menos, admitir que pode estar precisando de atenção especializada.

Destacamos, sempre, que um tratamento médico em geral, e em particular um tratamento em saúde mental só tem chance de ser bem sucedido se for realizado em equipe, pelo portador, pelo psiquiatra e psicoterapeuta, e pela família e amigos. Mas se o portador se encontra numa atitude de recusa do tratamento, é o momento de a família tomar a dianteira e procurar sensibilizar o doente a aceitar ir a uma consulta.

De maneira esquemática, damos a seguir algumas dicas de atitudes que podem inspirar os familiares a como lidar com situações de crise, sabendo que nem sempre isso pode dar conta de todas as dificuldades envolvidas nessas situações. 
Vejamos:
Atitudes recomendadas à família:
- Abordar o paciente com precaução e empatia 
– procurar mostrar aqueles sintomas que ele sente como incômodos: insônia, irritabilidade, inquietação, falta de concentração, dificuldade para realizar bem tarefas de que gosta.
- Dar instruções de maneira clara e precisa, evitando cenas emocionais desgastantes.
- Adotar uma atitude solidária: mostre que você também tem problemas e dificuldades na sua vida (evitar a exclusão)
- Um ambiente familiar tolerante e acolhedor favorece a aceitação da condição de doente e, consequentemente, do tratamento.
- Alimentar a autoestima do paciente: reconhecer os progressos parciais que ele for conseguindo ao longo do tratamento.


Como a família pode enfrentar uma situação de crise?
- Num episódio da doença, a capacidade de avaliação e julgamento do doente está comprometida.
- Não manifeste raiva ou irritação, mantenha controle sobre suas emoções
- Reduza os estímulos (por exemplo, rádio e/ou TV)
- Falar tranquilo, com voz suave e de forma simples.
- Mostrar compreensão pelo que o doente está padecendo.
- Mesmo diante de situações jocosas ou violentas, mantenha a calma.
- Se a agitação do doente aumentar, solicite ajuda.


Às vezes, a situação é muito grave e representa risco à vida do portador ou de outras pessoas, tenha presente que, em alguma ocasião, poderá ser necessário internar o paciente.A internação não é castigo – é cuidado numa hora em que a vida do paciente e/ou dos demais corre risco.A internação, em geral, é breve e, após um período de adaptação e tratamento, o paciente deve retornar ao seu meio e ser ajudado a retomar sua vida.


Não existem respostas fáceis, exceto que a família deve ter:
- Paciência
- Tranquilidade
- Interesse
- Participação
- Solicitar informação e orientação necessárias.


Persuadir o paciente a se tratar não é tarefa fácil. Requer paciência e compreensão e, muitas vezes, é necessário que se sofra por várias crises até que o portador aceite seu diagnóstico e assuma seu tratamento.


Fonte: Dra Rosilda Antonio, psiquiatra e vice-presidente do Conselho Científico da ABRATA

By: L.M. - Blog Apenas Borderline

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