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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Escolha consciente sobre Maternidade - Borderline


Este é um tema deveras delicado de ser tratado mas em minha opinião muito necessário.
Vamos começar por uma pergunta que estou certa que todos responderão da mesma forma consciente:
- Se você, mãe Borderline, soubesse precocemente que se engravidasse doenças metabólicas, genéticas e infecciosas, poderiam causar alterações no desenvolvimento neuropsicomotor do bebê o que você faria?
Engravidaria?
Não, verdade?
Então porque vamos arriscar sabendo tudo o que já se sabe hoje em dia sobre o genes de pais Borderline e que o bebê tem 80% de chances de contrair a doença?
Para mim não faz o menor sentido e só pode fazer sentido para alguém se for uma decisão impensada, irracional e completamente egoísta.

A esta altura as mães borderline já estarão soltando raios e coriscos sobre mim e as minhas afirmações mas, se aquietem um pouco e pensem não como mães mas como filhas. Tenho a certeza absoluta que a maior parte de vocês resultaram de uma concepção borderline. Seu pai, sua mãe ou até mesmo os dois eram borderlines... e aí, como foi a vossa experiência até agora? Boa?
Se não o foi nem provavelmente o está sendo então como explicam desejarem para um rebento vosso o mesmo que vocês tiveram de suportar até aqui?

Reparem, é uma decisão muito dura, claro que é! Qualquer mulher no seu estado natural deseja ter filhos, amar-los e um dia ser amada e cuidada por eles... mas a que preço, já pensaram nisso?

Não falo apenas pelo sofrimento que os seus filhos podem vir a desenvolver e as consequências que isso um dia lhes trará, mas por vocês mesmas.
Os borderline não têm culpa, mas o fato é que são diferentes e a maior demonstração de aceitação e consciência que podemos ter é desejar não dar continuidade a este sofrimento que até hoje ninguém se importa de verdade.
O importante até hoje é rotular, caluniar e deitar insanidades pela boca fora, não investigar, pesquisar e tentar solucionar o problema.
Borderine é um tabu e continuará sendo por muitos anos. Diagnósticos e tratamentos cheios de imperfeições... dor, abusos sem fim de comportamentos disfuncionais, isolamento e discriminação social, etc... querem isso para os vossos filhos?


Mais uma vez este texto vai ser mais extenso porque vou colocar aqui a conclusão de alguns estudos feitos e publicados para esclarecimento da maternidade Borderline. 
Se as minhas palavras não vos convenceram espero que o que vem a seguir valha de alguma coisa e consiga fundamentar os meus argumentos:

"A incapacidade regular que uma mãe TPB tem para lidar com suas próprias emoções obstrui a capacidade de lidar com os diferentes estados afetivos de seu filho (Newman & Stevenson, 2005; Paris, 1999). É comum essas mães se sentirem ansiosas, distante, confusas, ou oprimidas por seus filhos (Hobson et al, 2005; Holman, 1985; Newman & Stevenson, 2005). Quando esses pais ficam presos em sua própria “organização defensiva de pensamento” (Crandell, Fitzgerald, e Whipple, 1997, p. 250), eles impedem seus filhos de passarem pelo processo de integração que certas experiências e comportamentos afetivos proporcionam.
Mães com TPB, por exemplo, possuem dificuldade em controlar a raiva que muitas vezes é precipitada por mudanças no ambiente e ou medo de abandono intenso (APA, 2000; Paris, 1999). Suas fortes explosões de raiva podem ser prejudiciais para o desenvolvimento da criança, muitos filhos de mães com TPB são vítimas de abusos verbais e ou físicos (Newman & Stevenson, 2005). Glickhaulf-Hughes e Mehlman, (1998) sugerem que a “hostilidade da mãe, raiva e comportamento destrutivo podem ser disfarçadas como amor, tornando-se difícil para a criança confiar em suas próprias percepções da realidade (p. 296).

Além disso, uma mãe portadora desse transtorno é incapaz de regular adequadamente suas emoções, dessa forma ela reage de forma imprópria aos estímulos ambientais. Sua incapacidade de regular essas emoções, muitas vezes produzem comportamentos impulsivos e de auto-mutilação. As pessoas com TPB por exemplo, frequentemente se envolvem em abuso de substâncias, compulsão ou rejeição alimentar entre outros comportamentos auto-destrutivos. Cerca de 8-10% dos pacientes com TPB cometem suicídio, e uma porcentagem ainda maior (cerca de 70%), tentam suicídio ou se envolvem em comportamentos que são fisicamente prejudiciais (APA, 2000; Paris, 1999, Trull et al, 2003).
Os efeitos psicológicos deste comportamento auto-destrutivo sobre as crianças podem ser enormes. Especialmente se um dos pais chega a cometer suicídio, a criança sente uma imensa culpa, e se pergunta “por que”, essas crianças passam por um luto complicado, tendem a se sentir isolados e com raiva, além de desenvolverem Stress Pós Traumático entre outras psicopatologias (Cerel, Fristad, Weller & Weller, 2000; Emerson, 2003).


Experiências iniciais e o Desenvolvimento da Criança
Pesquisas demonstram de forma consistente que o apego que um adulto tem aos pais é associado às experiências de apego na infância (Crandell et al, 1997). Mães com TPB na infância tiveram apego à pais “desorganizados” como cuidadores primários, que continuam se sentindo “não resolvidos” mesmo em relações interpessoais na fase adulta. (Crandell et al, 2003; Hobson et al, 2005; Holmes, 2005). Assim, mães com TPB apresentam um nível elevado de desorganização (Holmes, 2005, Lyons-Ruth & Jacobvitz, 1999). Verificou-se que mães TPB tiveram uma má adaptação à esse processo na infância e que isso é passado para a próxima geração, através da replicação do trauma não resolvido (para uma discussão sobre o grau de transmissão desse trauma ver Crandell et al, 1997; Crandell et al, 2003; Van Ijzendoorn, 1995). Na verdade, esse problema irá refletir na vida da mãe TPB está relacionado com a qualidade da relação que essa mãe teve com os seus pais na infância. (Crandell et al, 1997; Van Ijzendoorn, 1995). A mãe TPB com histórico de trauma na infância, reproduz esse trauma em sua própria família, através da má adaptação que essa mãe teve em seu ambiente inadequado e os comportamentos parentais explícitos.

Feldman, Zelkowitz, Weiss, Vogel, Heyman e Paris, (1995) descobriram que as famílias de mães TPB’s em comparação com as famílias que não possuem origem de mães TPB’s foram significantemente menos organizadas, e marcadas por uma quantidade maior de instabilidade do que as famílias sem a patologia limítrofe.

Traumas não resolvidos e os Comportamentos Parentais Explícitos
Traumas não resolvidos associados ao Transtorno de Personalidade Limítrofe, muitas vezes dificulta a capacidade da mãe de exercer um papel eficaz. Os pais que são incapazes de refletir sobre suas histórias na infância e integrá-las às suas experiências, tem uma capacidade limitada de disponibilidade emocional para os filhos. (Crandell & Hobson, 1999). Especificamente, uma mãe com TPB pode não ter a capacidade de responder de forma adequada seus filhos, projetando o material do seu passado em sua experiência materna. (Crandell et al, 1997). Por exemplo, a divisão de defesa pode interferir na relação entre pais e filhos através da percepção que a mãe TPB tem da criança, que varia entre “tudo de bom”, onde essa criança precisa ser salva, ou “tudo de ruim”, onde a mesma precisa ser repreendida (Newman & Stevenson, 2005, Glickhauf-Hughes & Mehlman, 1998). Mesmo os atos de cuidado podem desencadear memórias dolorosas da história de trauma da mãe, tornando-se muito difícil para a mãe com TPB lidar com os desafios diários de ser mãe.

Crandell et al, (1997) empiricamente verificou que a maneira como essas mães são organizadas mentalmente prevê com precisão a forma como elas interagem com os seus filhos. Assim, as mães identificadas como “seguras” na infância interagem de forma mais fluida e sincronicamente com os seus filhos do que as mães identificadas como “inseguras”. Congruentemente, uma mãe com histórico TPB, nas primeiras experiências traumáticas apresentam um resultado de desajuste em seus padrões comportamentais, os quais são menos favoráveis na formação da autonomia da criança. Mães com BPD tendem a interagir de forma “intrusiva insensível” com os seus filhos (Hobson et al, 2005). Essas interações podem interferir na capacidade de desenvolvimento da criança de se relacionar com outras pessoas dentro do ambiente em que ela convive e produz uma miríade de problemas interpessoais para a mesma.

Desenvolvimento do Transtorno em Filhos de Mães com Transtorno de Personalidade Limítrofe (Borderline)
Apesar das dificuldades que as mães com TPB tem em se estabilizar emocionalmente e a importância existente na relação Mãe/Filho no desenvolvimento social e emocional de uma criança, não é presente o desenvolvimento psicossocial em crianças de mães com TPB. Até hoje, a pesquisa mais significante já realizada com o intuito de examinar o desenvolvimento psicossocial dessas crianças foi realizada por Weiss, Zelkowitz, Feldman, Vogel, Heyman e Paris (1996).
Weiss et ai, (1996) confirmou-se que as crianças de mães com TPB, em comparação com crianças de mães que não possuem o transtorno, tinham um número significantemente maior de diagnósticos psiquiátricos e pontuaram mais alto em uma classificação global de imparidade. Os autores demonstraram que filhos de mães com TPB têm um risco aumentado para o desenvolvimento de transtornos Borderline. Mesmo quando o trauma de infância foi controlado, não foram encontradas diferenças entre os grupos significativos no funcionamento da relação entre filhos de mães com ou sem TPB; houve uma variação de 20% funcionamento dessa relação em crianças normais contra 8% das crianças com patologia Borderline. Os resultados fornecem dados sobre o desenvolvimento de crianças de mães com TPB. No entanto, o estudo foi limitado devido à pequena quantidade de amostras que foi coletada e a falta de atenção nos diagnósticos co-mórbidos. Esses resultados preliminares apontam para a necessidade de mais pesquisas com uma amostra em quantidade maior, inclusive de mães com diagnóstico de comorbidade.


Traços da Criança
Filhos de mães com TPB apresentam uma prevalência significativa de traços que indicam “desorganização” do que filhos de mães sem o transtorno (Hobson et al, 2005). As mães com insensibilidade e com TPB são intrusivas, apresentam uma desregulamentação afetiva, confusão sobre as expectativas do papel desempenhado por elas, e experiências traumáticas não resolvidas foram apontadas como principal precursor dessa desorganização (ver Van Ijzendoorn et al, 1999, Hobson et al, 2005).
Desorganização em crianças tipicamente surge em resposta ao estresse recorrente. No caso de filhos de mães com TPB, as respostas desorganizadas das crianças desenvolvem à partir do que Main (1995) refere-se como uma abordagem esquiva. O estresse associado com o Borderline e a a sintomatologia (por exemplo, comportamento errático ou volátil) faz com que as crianças se apeguem simultaneamente e se afastem do seu cuidador. Em outras palavras, em momentos de perigo ou estresse, a criança busca a mãe como uma “base segura”, mas no caso de uma mãe com TPB, muitas vezes é a própria mãe quem está levantando a ameaça.
Desorganização comportamental em crianças implica a má adaptação e, portanto preocupam os profissionais de saúde mental que trabalham com crianças de mães com TPB. A investigação mostra que a desorganização na infância atinge níveis modestos de estabilidade a longo prazo, mas está ligada a uma série de sequelas patológicas (Holmes, 2005, Van Ijzendoorn et al, 1999). Crianças desorganizadas enfrentam problemas de gestão de estresse, muitas vezes envolvem-se em comportamentos exteriorizados, podendo se deparar com comportamentos dissociativos mais tarde em suas vidas (Lyons-Ruth & Jacobvitz, 1999; Van Ijzendoorn et al, 1999).


Desenvolvimento Cognitivo
Pouco se sabe sobre o desenvolvimento cognitivo em crianças de mães com BPD, mas altos níveis de traços “desorganizados” sugerem que essas crianças enfrentarão problemas graves no seu desenvolvimento cognitivo. A segurança do apego com o cuidador principal está relacionada com o desenvolvimento intelectual e o funcionamento de crianças em que a capacidade de resposta com o seu envolvimento materno apoia o seu desenvolvimento emocional (ver Crandell & Hobson, 1999). Assim, uma mãe TPB com traços de insensibilidade, intrusão e imprevisibilidade afeta negativamente, o desenvolvimento cognitivo de uma criança.
Crandell e Hobson (1999) conduziram um estudo do funcionamento intelectual em crianças de mães consideradas “seguras” e “inseguras”. Eles descobriram que filhos de mães inseguras marcaram uma média de 19 pontos a menos que os filhos de mães “seguras” no teste Standford-Binet (Teste que mede a escala de inteligência). Além disso, os estudos revelam que as crianças neurobiologicamente desorganizadas têm níveis aumentados de cortisol e uma diminuição do desenvolvimento mental (Hertsgaard, Gunnar, Erickson & Nuchmias, 1995). Uma vez que a maioria dessas crianças de mães com TPB possuem uma desvantagem cognitiva (Holmes, 2005).


Inter-relação entre a Afetividade em crianças de mães com Transtorno de Personalidade Borderline
Crianças de mães com TPB geralmente exibem um padrão de comportamento desorganizado e são forçados a lidar constantemente com os limites de sintomatologia de sua mãe (incluindo as suas relações interpessoais inadequadas, repetidos relacionamentos que não deram certo e falta de estabilidade afetiva), é de se esperar que essas crianças mostram um déficit de relacionamentos interpessoais.
Embora não haja pesquisas mínimas nesta área até o momento, não há evidências que sugerem que os bebês de mães com TPB têm uma forma alternativa de lidar com o estresse interpessoal (Crandell et al, 2003). Durante o experimento chamado de “Strange Situation” desenvolvido para analisar comportamento de apego à esta “base segura”, observou-se que filhos de mães com TPB estão menos disponíveis para o envolvimento positivo com um estranho (Hobson et al, 2005). Essas crianças se tornam menos satisfeitas que as criaças de mães não portadoras do transtorno a partir da interação Mãe/Filho após uma separação interpessoal. Crandell et al, (2003) discute como esse modo alternativo de lidar reflete a expectativa da criança de que os pais não voltaram a acalma-la em momentos de tensão.
É importante salientar que as evidências exploratórias que crianças de mães TPB apresentaram, mostram sinais de desregulação afetiva, durante o experimento chamado de “Still Face Procedure” foi observado que essas crianças apresentam um “brilho ofuscado” (Crandell et al, 2003). Crandell descobriu que os filhos de mães com ou sem o transtorno apresentaram semelhanças antes do procedimento, logo após o início dos testes, as crianças de mães com TPB apresentara um declínio durante e após o procedimento. Elas obtiveram uma pontuação menor no teste que media a organização comportamental sob estresse (Hobson, 2005) e elas necessitavam de mais tempo para se recuperarem da situação de estresse. Esses resultados preliminares sobre conflitos emocionais em crianças de mães com TPB reforçam as observações psicanalíticas. Relatos descrevem essas crianças como tendo tendências comportamentais defensivas, “necessidades emocionais através da negação”, comportamento auto-destrutivo e inversão de papéis, além de apresentarem frequentemente o medo do abandono. (Glickauf-Hughes & Mehlman, 1998, p. 300).
Há evidencias que sugerem que, mesmo no meio da infância, as crianças de mães TPB podem apresentar problemas de relacionamento interpessoal e regulação afetiva. Estudos mostram que as crianças desorganizadas têm mais dificuldade em se engajar em processos “democráticos” com crianças da mesma faixa etária, entre 6 e 7 anos. Além disso, as crianças desorganizadas mantém uma incapacidade de resolver adequadamente situações assustadoras no meio da infância (Holmes, 2005).


E aí... vai arriscar?
Ou porque você "é diferente de todo o mundo" tudo vai ser diferente?
Fica para reflexão!!

By: L.M. - Blog Apenas Borderline

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