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segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Neurobiologia e Neuropsicologia Borderline e a Fábula do Monge e do Escorpião


Decidi fazer algumas pesquisas a nível neurobiológico que pudesse comprovar haver alterações no cérebro do paciente TPB que justificasse um comportamento universal de alguns sintomas independentemente do estado sócio-econômico ou cultural em que os indivíduos estejam inseridos.
Isto para sustentar a questão de que, o transtorno comportamental pode ser alterado com o trabalho intenso da parte do paciente, médicos e terapeuta mas que, apesar disso jamais o paciente poderá deixar de ser Borderline, ou seja, a essência continuará lá, a forma dele lidar com o que o rodeia é que pode ser trabalhado para diminuir o sofrimento do paciente e, consequentemente, dos que o rodeiam.
Descobri então algumas descobertas feitas por pesquisadores e estudiosos do tema TPB, as quais vou passar a reproduzir em seguida nomeando obviamente as fontes... mas também me lembrei duma história que me contaram no início do meu tratamento, remissão e sucessiva recuperação do controle da minha vida.
É a história do sapo e do escorpião que todos conhecem, lembram?
Vou contar a história original da mitologia para os que não conhecem:


Era uma vez um Escorpião, que vivia nas margens de um rio. Um dia, depois de uma grande chuvada, a água do rio começou a subir de forma ameaçadora para o Escorpião. Este, ao ver que a água não parava de subir e seguramente iria chegar à sua toca o que o faria morrer afogado, começou a chamar um sapo que descansava numa pedra e pediu-lhe para o transportar nas suas costas até à outra margem. 

O Sapo disse-lhe que não, porque sabia que o Escorpião lhe picaria e lhe provocaria a morte. Mas o Escorpião, com toda a sua capacidade de argumentação, convenceu o sapo a transportá-lo e assim aconteceu. 
Quando iam no meio do rio, o Escorpião picou o Sapo, envenenando-o. O sapo, antes de morrer ainda teve tempo de perguntar ao Escorpião: 
"Porque me picaste? Agora morreremos os dois!"
O Escorpião, respondeu ao Sapo, dizendo-lhe apenas: 
"Está na minha natureza!"

Como disse antes, a história que me foi contada no primeiro dia que entrei na segunda fase de tratamento, tem a mesma base da anterior mas o final é um pouco diferente. 

Ora vejam:

Um Monge e seus discípulos caminhavam por uma estrada, quando viram um escorpião a ser arrastado pelas águas. O Monge correu pela margem do rio, meteu-se na água e agarrou o bicho. Quando o trazia para fora, o escorpião picou-o e, devido à dor, o homem deixou-o cair novamente no rio. Foi então à margem e socorrendo-se de um ramo de árvore, entrou no rio, segurou o escorpião e salvou-o sem ser picado. 

Os discípulos, que assistiam perplexos à cena, perguntaram-lhe então porque salvara o animal se, afinal de contas, ele tinha sido mau para ele ao picá-lo. O Monge ouviu tranquilamente os comentários e respondeu: 
"Ele agiu conforme sua natureza, eu de acordo com a minha, e não permiti que a sua natureza mudasse a minha."


Repararam a diferença?
Eu comparo muito ao que eu tenho estudando sobre o TPB, o que eu pesquiso a cada dia e o que eu sempre defendi e defenderei até que a voz me doa:
O Borderline tem problemas neurobiológicos e neuropsicológicos que podem ser atenuados através de um variado conjunto de fatores a serem seguidos tanto pela parte do paciente como dos médicos e terapeutas que o acompanharem neste processo rumo ao equilíbrio e qualidade de vida... mas jamais a sua essência poderá ser mudada!
Não é que não deva, é que não pode! 
É como se você quiser mudar a cor da sua pele, a idade que você tem.
Impossível, verdade!?

Peço desculpas por esta publicação ficar um pouco mais longa mas não havia outra forma de o fazer.
Achei importante publicar aqui alguns estudos que pesquisei e me foram facultados sobre o TPB. 
Desta vez a neurobiologia deu uma hipótese aos pacientes Borderline, vejam bem... descobriram que se o céu fosse verde a culpa não seria dos Borderline e também não é deles a culpa do céu ser azul.rsrs
Tudo tem uma explicação nessa vida... e felizmente uma solução!

NEUROBIOLOGIA E NEUROPSICOLOGIA BORDERLINE

Em relação aos aspectos neurobiológicos foi possível encontrar alterações na amígdala, no hipocampo, na porção dorsolateral e orbitofrontal do córtex pré-frontal, no córtex cingulado anterior, no giro fusiforme dentre outras estruturas neurais, demonstrando claramente o déficit do circuito fronto-límbico desses pacientes (Herpetz, Dietrich, Wenning, Krings, Erberich & Willmes, 2001; Brendel, Stern & Silbersweig, 2005; Minzenberg, Fan, New, Tang & Siever, 2007; Lieb et al., 2004; Donegan, Sanislow, Blumberg, Fulbright, Lacadie & Skudlarski, 2003).

Já em relação à interação entre as funções neurobiológicas e neuropsicológicas descritas nesse artigo podemos ver: porção dorsolateral do córtex pré-frontal – associado a disfunções na memória de trabalho, nas funções executivas e no planejamento de comportamentos orientados a um objetivo no TPB; amígdala – correlacionada com os déficits no TPB no processamento emocional; porção orbitofrontal do córtex pré-frontal – associado a alterações da capacidade de controle inibitório no TPB; hipocampo – relacionado a déficits mnemônicos no TPB; córtex cingulado anterior – relacionado aos déficits de modulação atencional, de monitoramento de
conflitos e na seleção de respostas em contextos emocionais no TPB, entre outras (Brendel et al., 2005).

Entretanto, alguns autores (Kernberg, Weiner & Bardenstein, 2003) sugerem que esses padrões podem ser identificados desde a infância desses indivíduos, sendo, inclusive, possível realizar o diagnóstico dos transtornos da personalidade na infância – no entanto esse diagnóstico é desaconselhado pelas diretrizes diagnósticas do DSM-IV-TR (Kernberg et al., 2003).

Quanto aos aspectos genéticos, observa-se em alguns estudos que a concordância do diagnóstico de TPB, em gêmeos monozigóticos, varia em torno de 30% (Fruzzetti et al., 2005).
Em uma pesquisa feita na Noruega para avaliar a concordância do diagnóstico de TPB em gêmeos, avaliaram-se 221 pares de gêmeos, sendo 92 monozigóticos e 129 dizigóticos. Os resultados desse estudo encontraram concordância no diagnóstico de TPB em 35% dos gêmeos monozigóticos e de 7% dos gêmeos dizigóticos (Torgensen, 2000), evidenciando que parece existir uma grande associação de fatores genéticos com o TPB.

Acredita-se que o TPB decorra de uma variada combinação que inclui predisposição genética, vulnerabilidade ao estresse ambiental, experiências infantis de negligência e/ou abuso, além de outros eventos estressores que poderiam contribuir ao desencadeamento desse transtorno nos adultos jovens (Skodol, Siever, et al., 2002). A compreensão sobre a neurobiologia do TPB decorre de fontes variadas de evidência. Por exemplo, estudos de neuroimagem revisados por Schmahl e Bremner (2006) sugerem alterações estruturais e funcionais em diferentes regiões encefálicas nos indivíduos afetados por esse transtorno.

As alterações neurobiológicas, como um fator componente do TPB, já vêm sendo estudadas há alguns anos como, por exemplo, na hipótese do modelo biopsicossocial jacksoniano, no qual se sugere que as experiências traumáticas na infância interferem no processo de maturação das conexões cerebrais, em especial a do córtex frontal, gerando dessa forma os sintomas característicos do TPB (Meares, Stevenson & Gordon, 1999). Ou seja, segundo esse modelo essa interferência ambiental precoce acarretaria em um desenvolvimento deficitário das conexões cerebrais dos sujeitos portadores de TPB.
O circuito límbico-frontal parece ter uma grande relação com o quadro de TPB. A alteração, uma hipofunção desse circuito, está relacionada com a desregulação do processamento emocional, característica tida como central de indivíduos portadores de TPB.
Essa alteração poderia estar relacionada com outras sintomatologias do transtorno, tais como o comportamento impulsivo, no entanto, sua maior influência é sobre o processamento emocional (Schmahl & Bremner, 2006; Brendel et al., 2005).

Alterações no encéfalo de indivíduos com TPB vêm sendo documentadas por diferentes estudos de neuroimagem funcional. As principais regiões documentadas foram: amígdala, hipocampo, córtex cingulado anterior, córtex orbitofrontal, porção ventrolateral do córtex préfrontal e giro fusiforme, regiões centrais do circuito límbico-frontal responsáveis pelo processamento emocional e pelo controle inibitório (Herpetz, Dietrich, Wenning, Krings, Erberich & Willmes, 2001; Brendel et al., 2005; Minzenberg, Fan, New, Tang & Siever, 2007; Lieb, Zanarini, Schmahl, Linehan & Bohus, 2004; Donegan, Sanislow, Blumberg, Fulbright, Lacadie & Akudlarski, 2003).

O córtex orbitofrontal está relacionado com o controle dos impulsos e com o comportamento antissocial. A priori, uma disfunção somente nessa área não explicaria o conjunto de sintomas que compõe o quadro Borderline. Tendo em vista que lesões nessa área parecem estar ligadas a comportamentos antissociais e, dessa forma, com o déficit de ativação afetiva, condição que não se encontra no TPB (Dinn, Harris, Aycicegi, Greene, Kirkley & Reilly, 2004). Entretanto, estudos demonstram evidências de alterações no córtex orbitofrontal em indivíduos com TPB frente a estímulos de expressões faciais emocionais (Minzenberg et al., 2007; Donegan et al., 2003). Essa alteração do córtex orbitofrontal estaria associada à agressividade, à instabilidade afetiva e à impulsividade. As alterações nesta região explicariam, ainda, as reações emocionalmente intensas e desproporcionais de sujeitos com TPB em situações emocionais que teriam um baixo, ou nenhum, índice de valência emocional. Essa explicação se dá porque as alterações de córtex orbitofrontal levariam a gatilhos de memórias implícitas de situações sociais emocionalmente aversivas, o que levaria os indivíduos com TPB a esse padrão comportamental (Brendel et al., 2005).

Em estudos de neuroimagem estruturais, foram encontradas alterações significativas no volume da amígdala, do hipocampo, da porção esquerda do córtex orbitofrontal, das partes direita e esquerda da porção dorsolateral do córtex pré-frontal e da porção direita do córtex cingulado anterior, significativamente diminuídos em indivíduos com TPB, corroborando a noção de uma disfunção límbico-temporal-frontal no TPB (Schmahl & Bremner, 2006; Driessen, Herrmann, Stahl, Zwaan, Meier & Hill, 2000). Em especial as alterações no volume da amígdala e do hipocampo parecem estar associadas com a vivência de experiências traumáticas (Driessen et al., 2000).


Em resumo, o TPB é uma condição clínica que ainda necessita de grandes avanços na pesquisa e estudo da patologia quer seja para entender o transtorno ou para estabelecer estratégias psicoterápicas para o tratamento do mesmo. Acho que neste momento está mais que provado que o TPB é originado tanto por alterações neurobiológicas como neuropsicológicas. Mas, mesmo com esses resultados animadores, ainda existe um déficit com relação à especificidade dessas alterações no TPB, sugerindo, dessa forma, a necessidade de mais pesquisas e, consequentemente, sensibilização e esclarecimento dos profissionais de saúde mental.

Ser Borderine não é ser Transtornado...
tal como ser transtornado não é ser Borderline!

Não há necessidade de manuais específicos para médicos e terapeutas tratarem indivíduos com TPB... o que se necessita é de um pouco mais de bom senso.

Menos discriminação, mais estudo, sensibilidade e generosidade POR FAVOR!


By: L.M. - Blog Apenas Borderline

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