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terça-feira, 12 de agosto de 2014

"EU NÃO PERTENÇO A ESTE MUNDO" - Borderlines de Fronteira Tranquila


Borderlines de Fronteira Tranquila têm frequentemente como primeiro diagnostico o Transtorno de Personalidade Esquizoide por falta de conhecimento deste tipo de TPB e como ele funciona emocionalmente nos pacientes.

Para explicar melhor o porquê desta personalidade que alguns desenvolvem vou fazer uma comparação de fácil entendimento:
Imaginem que fazem parte daqueles indivíduos que nascem com a habilidade de manusear tudo inclusive escrever com a mão esquerda (canhotos) ao invés da forma  "normal" que seria a direita (destros).
Hoje em dia, felizmente, já é bem mais frequente não se reparar nesse tipo de coisas porque a ciência já explicou o porquê disso acontecer mas até chegarmos aqui a sociedade ocidental via isso como sinal de que as pessoas teriam algum problema mental e deveria ser corrigido o mais cedo possível. Quem era canhoto era reprimido até aprender a se virar com a mão direita. O fato é que "o erro era corrigido" o cérebro da criança já funcionava dessa forma como se fosse natural e não sentiam mais a necessidade de manifestar o seu ato primitivo.
Curiosamente o resto das atividades continuavam a ser todas feitas com a mão esquerda mas o erro para a sociedade, que era o indivíduo ser canhoto na escrita, era corrigido com sucesso.

Assim se passa com os Borderlines de Fronteira Tranquila. Desde cedo as suas personalidades tiveram de ser moldadas como forma de suportarem a dor e se desligarem da realidade. Alguns Borderlines conseguem com terapia apropriada voltar ao seu estado sócio-afetivo considerado normal, outros em que a terapia não surte efeito e aqueles que embora consigam mudar o comportamento menos saudável continuarão com alguns traços para o resto de suas vidas.
Mas entendamos então quais as características que um Borderline de Fronteira Tranquila pode apresentar para ser confundido com alguém com Transtorno de Personalidade Esquizoide:

Normalmente eles em idade muito jovem deixam de querer se conectar com os outros e se mantém distantes das relações sócio-afetivas. Ou seja, não desejam, não gostam e não procuram relacionamentos íntimos de qualquer espécie.
Sempre que possível optam por fazer coisas sozinhos, na escola pedem aos professores para não participarem de grupos de estudo, ficarem na última fila da sala de aula, etc. Os profissionais começam a pensar neste quadro quando começam a perceber que esta é a única forma da pessoa se relacionar com o mundo – à "distancia".
Estes Borderline costumam ter pouquíssimo interesse em paquerar, namorar ou ter experiências sexuais porque tudo se torna superficial, como se vivessem em sistema automático... emoções são evitadas e recusadas.
Poucas coisas são interessantes, amizades intimas serão muito difíceis de acontecer e poucas pessoas terão oportunidade de chegar perto.
Chegará a uma altura que pouca coisa os afeta emocionalmente e é capaz de fazer a maior cara de paisagem com fatos que normalmente afetam qualquer pessoa comum como por exemplo a morte de alguém próximo.
Não gostam de convites para festas e outras atividades que tenham por obrigação a companhia de pessoas que não conhecem ou que não tenham nada em comum. Até porque não sente satisfação em pertencer a grupos, nem mesmo a sua própria família.
Costumam ser mestres em atividades que não necessitam da participação de outras pessoas.
Não gostam de ser forçados a interagir, de serem tocados e abraçar seja quem for se torna desconfortável. Eles até conseguem interagir, mas simplesmente não se encaixam.

Acontece que isto se deve a uma escolha de auto-proteção e não por eles serem isentos de emoção. A diferença é que no primeiro toque em local desprotegido eles se desmoronam e se ferem profundamente.

A confusão aumenta por costumarem frequentemente usar a expressão "Eu não pertenço a este mundo" e de fato é exatamente isso que sentem. Podem até considerar se aproximar de alguém quando existe alguma afinidade mas isso só será confortável para eles por alguns instantes, horas ou até mesmo se pode considerar a hipótese de tolerarem mais de 1 dia. Ao final do segundo já só querem e pensam no seu canto, no seu mundo, no seu silêncio mesmo que "barulhento". A relação será viável mas se cada um respeitar o espaço do outro. Eu penso que, se o Borderline tem algum limite e sempre terá, esse será o maior deles todos.
Não se adequam às convenções sociais e detestam as pessoas que não olham nos olhos e não sejam sinceras e diretas.
Se dizem insatisfeitos com sua vida social mas raramente procuram mudar essa condição por falta de confiança no próximo.
O mundo os engole e a sensação de desesperança é o único que conhecem.


É excelente quando, através da terapia e da vontade do indivíduo esta barreira se desfaz. Aí ele terá de aprender tudo de novo: como se relacionar emocionalmente com o mundo.
Tudo poderá parecer excelente no início mas as coisas podem se complicar bastante no momento em que a emoção que tenha de enfrentar seja negativa, fazendo ele recordar o porquê da sua antiga escolha de retrair as emoções e se ter fechado no seu mundo.
A nova realidade versus o modo automático que sempre viveu até ao momento: E aí, quem vai ganhar? Alguém se atreve a fazer apostas?


Eu ainda penso que por vezes existem coisas que devemos deixar quietas para sempre. Coisas que não devemos mexer. Se a sanidade do paciente passou muitos anos por isso, para quê querer reviver o que está confortavelmente quieto e "esquecido"?
Se não for escolha do paciente dar certos passos, então o melhor muitas vezes é deixar quieto, ou o estrago pode ser muito maior do que o problema inicial.
Só o paciente deveria ter o poder de arriscar, porque só assim ele poderá assumir a "culpa" num possível fracasso, assim como só ele poderá assumir a vitória no caso de sucesso!


Limites e Regras são necessárias a um Borderline... mas ambas as coisas deverão existir de ambas as partes.
Pacientes e Terapeutas devem se ver e especialmente sentir como aliados e não como adversários, senão nada será possível.


By: L.M. - Blog Apenas Bordelrine

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